LUÍS BRAVO
1 - Boas Luís... és um dos bons produtores de
música eletrónica de dança que temos nos Açores, conta-nos um pouco como
começou esta tua aventura?
Boas Miguel, desde já agradeço o convite, é um prazer. Bem, tudo
isto começou por volta de 2004, 2005, o gosto pela música de dança para ser
mais preciso. Cresci a ouvi rock, desde o punk ao heavy metal. As primeiras saídas
á noite, entrar nas discotecas, a curiosidade daquele mundo novo. Mas acho que
a viragem propriamente dita, foi nas Sanjoaninas de 2005 (salvo erro), no Porto
das Pipas, fui ver e ouvir Pete tha Zouk, e de facto gostei do ambiente, a envolvência
das pessoas, pois até ali, eletrónica não era música para mim. Um dos temas
tocados foi a "Solid Textures", bem, a forma como fez click na minha cabeça foi incrível (risos). Mal sabia eu do que estava para vir.
No entanto fui-me interessando, comecei a dar uns toques de teclado numas
brincadeiras de banda, e a trabalhar com os softwares. E pensei, “porque não
fazer algo?", o material que eu possuía era do mais básico, mas mesmo
assim tentei. Algumas dicas e força de um grande amigo, e o primeiro produtor
para mim, João Barcelos (Jay Barcelos como artista), fui ganhando o gosto e com
calma e sempre de pé atrás fui tentando aprender. Em 2008 editei uma remistura,
que foi o pontapé de saída, básico e inexperiente, mas o qual agradeço, porque
no geral, tudo faz parte da evolução. E hoje em dia ouço de tudo um pouco, e
agradeço isso à eletrónica, abriu os meus horizontes.
2 - Já
editas-te por labes de renome como a Aenaria
do famoso Dj italiano Luca Ricci,
embora o teu nome não seja muito conhecido e falado nos Açores, a que achas que
se deve esse fato?
Acho que é aquele estereótipo comum, “o que vem de fora é que é bom”.
Talvez seja um pouco isso, também não produzo algo para as massas, uma minoria gosta,
e resume-se a eles. As rádios não respondem aos mails, por isso acabamos também por "desistir" de certa forma.
A insularidade não ajuda, o género também não, mas um pouco de orgulho pelos
nossos artistas, sejam estes músicos ou não, faz falta. E nem falo de mim obviamente,
mas de quem anda cá à anos e muitas vezes não tem o respeito e projeção
merecidos.
3 - Qual o
software e hardware que usas e qual o género que mais gostas de produzir?
Trabalho com o Reason,
utilizo muitas versões devido a projetos e colaborações, mas neste momento é o
velhinho 4. Adoro aqueles fios (risos). No entanto o Live está na mira, e entrará para as minhas ferramentas sem dúvida.
Hardware não tenho muito por enquanto, investi num bom PC estúdio, tenho um midi básico da M-Audio, e os meus
monitores Adam A5X. Embora no último ano tenha andado dentro da variante mais deep/tech/house, não sigo nenhum estilo
em concreto. Claro que o que ouvimos influencia sempre, e não acredito em quem
diz "não ouço nada”. Porque já foi feito de tudo, agora cabe a cada um
fazer o mais original ou pessoal possível. Mas o género base é o house, mas
tenho muita coisa para sair e em fase de construção que até tem Drum &
Bass. Por isso às vezes é deixar fluir, e o estado de espirito e a inspiração
tratam do resto! (risos)
4 - Quantos
temas já produziste e remisturas te, qual o que te toca mais?
Se não me falha a memoria,16 originais (3 deles como Sleep N More) e 6 remisturas editadas
ate à data. Acho que ainda não fiz, nem sei se vou fazer, a tal faixa da qual
me orgulho muito. Mas tenho algumas que tem um sabor especial, porque foram
produzidas em alturas difíceis, acaba por ficar um pouco nós nas mesmas. Há
temas que me arrependo de ter editado pela falta de técnica entre outras, mas
como já referi anteriormente, faz parte da evolução. A que me deu mais alegrias
e teve maior sucesso a nível de vendas foi a "Yang", foi um risco na
altura porque foi algo que saiu do nada, e acabou por ser compilada várias vezes,
e um ano depois ainda rola em sets, o que é gratificante. Mas todas tem o seu
lugar especial sem dúvida!
5 - Como
artista produtor de música eletrónica deves receber algo pelo teu trabalho, de
onde vem o teu incoming, de royaltis, quem te paga, recebes também
da SPA, podes falar um pouco sobre este assunto?
Este é um assunto delicado (risos). Até à data não recebi nada
pelas faixas, algumas não venderam o suficiente, e a falta de comunicação com
editoras etc. Ainda estou verde nesta área, porque sou o tipo de pessoa que faz
sem ter nada em troca, mas claro que há que ter os pés bem assentes. Neste último
ano até à data as vendas têm aumentado consideravelmente e futuramente surgirão
os ditos "lucros”. Existem datas para os pagamentos, e caso estes não
tenham uma quantia mínima, passam para a próxima entrega de lucros, e assim sucessivamente,
até atingir o montante mínimo para uma transferência.
Em alguns casos são as editoras que pagam, noutros as
distribuidoras (que é a empresa que está por detrás da editora),e as quantias
variam com o tipo de contrato, se é um álbum, EP ou remistura. Como vês o que
envolve dinheiro é confuso (risos). Prefiro ficar mesmo só pela música!
6 - O que
achas que falta nos Açores para que os Artistas cá da Região possam quebrar a
barreira da insularidade?
Faltam os ditos apoios culturais, o querer saber e dar a conhecer.
Muitas das vezes quem está à frente dos meios de divulgação, quer seja rádio, tv,
etc., vai pelos seus gostos pessoais, e acaba por abafar grandes talentos que
infelizmente passam despercebidos. Uma filtragem precisa e com a devida atenção
ao que se faz por cá podia dar grandes resultados a muitos artistas. A Meca
para o açoriano é ser conhecido "lá fora”, mas o apoio tem de partir de
cá.
7 - Em
relação à noite dançante da Terceira, qual a tua opinião?
Esta é das
tais perguntas na qual podia escrever sem parar (risos). A noite mudou muito,
sem dúvida. Para mim para a negativa. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”,
à letra. Cheguei a sair só para ouvir os dj’s da velha guarda, ia à Twins Club ouvir Ricky, The One, os Brothers on Dish, Oliver T, Gastão R, entre
outros, que a meu ver foram muito importantes na underground scene local e
pelos quais tenho um respeito enorme. Mas os facilitismos vieram tirar um pouco
de cena quem tocava mesmo por gosto, tanto que existem dj’s hoje em dia demais,
atrevo-me a dizer. Porque sejam dj’s de Tracktor
ou de vinyl, se forem bons, o mérito
está lá. Mas muitas das casas preferem ir pelo fácil, e não os devemos julgar
por isso, tempos de crise, o que lucra é o que vai para venda, simples. Mas se
a educação musical não surgir nem com os djs, nem com as casas, a noite será
cada vez mais banalizada. Acho que há espaço para todos, desde o comercial, até
ao extremo underground. Agora a quem cabe equilibrar esta balança? Fica a
pergunta no ar.